O talking back da “negra africana”: o ser desencarnado e silenciado da empregada doméstica Janair em A paixão segundo G.H.

Conteúdo do artigo principal

Francisco Pires

Resumo




Em A paixão segundo G.H., Janair é uma empregada doméstica negra que se torna uma presença marcante justamente por sua ausência física. A personagem G.H., narradora do livro e a ex-patroa de Janair, expressa um silêncio eloquente a respeito dessa personagem afro-brasileira. G.H. define Janair como “uma negra africana” e frisa a sua incapacidade de criar com ela laços de identificação: “arrepiei-me ao descobrir que até agora eu não havia percebido que aquela mulher era uma invisível”, nas palavras de G.H. Por conta de um processo discriminatório que deriva da interseção de raça, classe e gênero, Janair ocupa o espaço socialmente marcado pela invisibilidade: A empregada doméstica neste livro de Lispector parece proveniente de outra realidade, avultando-se metaforicamente como uma figura a um só tempo estrangeira, desterrada e desencarnada.




Detalhes do artigo

Como Citar
Pires, F. (2019). O talking back da “negra africana”: o ser desencarnado e silenciado da empregada doméstica Janair em A paixão segundo G.H. Brasiliana: Journal for Brazilian Studies, 8(1-2), 167–189. https://doi.org/10.25160/bjbs.v8i1-2.114836
Seção
Dossier
Biografia do Autor

Francisco Pires, New York University

Francisco Quinteiro Pires is a Ph.D. candidate in the Department of Spanish and Portuguese Languages and Literatures at New York University with a dissertation entitled The Violence of Miscegenation: A Critique of the Production of Senses, Spaces, and Identities in the Afro-Luso-Brazilian Cinema. His research focuses on the racialized and gendered representation of subjectivities in contemporary movies produced in Brazil, Portugal, and Lusophone African countries.

Referências

REFERENCES

Almeida, Sandra Regina Goulart. “Quando o sujeito subalterno fala: especulações sobre a razão pós-colonial.” Crítica pós-colonial: Panorama de leituras contemporâneas, edited by Júlia Almeida et al., 7 Letras, 2013.

Amaral, Márcia Franz. “Lugares de fala: Um conceito para abordar o segmento popular da grande imprensa.” Contracampo, no. 12, 2005, pp. 103-14.

Arêas, Vilma. “A hora da estrela.” Clarice Lispector com a ponta dos dedos. Companhia das Letras, 2005, pp. 74-108.

Campt, Tina. Listening to Images. Duke UP, 2017.

Chaui, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. Fundação Perseu Abramo, 2000.

Collins, Patricia Hill. Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and the Politics of Empowerment. Routledge, 2000.

Costa, Emilia Viotti da. Crowns of Glory, Tears of Blood: The Demerara Slave Rebellion of 1823. Oxford UP, 1994.

Derrida, Jacques. Positions. Translated by Allan Bass, U of Chicago P, 1982.

DiAngelo, Robin. “White Fragility.” International Journal of Critical Pedagogy, vol. 3, no. 3, 2011, pp. 54-70.

Fernandez, Raffaella. Processo criativo nos manuscritos do espólio literário de Carolina Maria de Jesus. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, 2015.

Finch, Aisha K. Rethinking Slave Rebellion in Cuba: La Escalera and the Insurgencies of 1841-1844. The U of North Carolina P, 2015.

Freyre, Gilberto. Casa-grande & senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Global Editora, 2005.

___. Sobrados e mucambos: Decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. Global Editora, 2003.

Goh, Irving. “Le Toucher, le cafard, or, On Touching—the Cockroach in Clarice Lispector’s Passion according to G.H.” MLN, vol. 131, no. 2, Mar 2016, pp. 461-80.

Gonzalez, Lélia. “Racismo e sexismo na cultura brasileira.” Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, pp. 223-44.

Gordon, Avery F. Ghostly Matters: Haunting and the Sociological Imagination. U of Minnesota P, 2008.

Gotlib, Nádia Battella. Clarice Fotobiografia. Edusp, 2007.

___. Clarice: Uma vida que se conta. Editora Ática, 1995.

Jesus, Carolina Maria de. O meu sonho é escrever: Contos inéditos e outros escritos. Ciclo Contínuo Editorial, 2018.

___. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. Francisco Alves, 1960.

Hedrick, Tace. “Mother, Blessed Be You among Cockroaches: Essentialism, Fecundity, and Death in Clarice Lispector.” Luso-Brazilian Review, vol. 34, no. 2, 1997, pp. 41-57.

Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 2008.

hooks, bell. Talking Back: Thinking Feminist, Thinking Black. South End Press, 1989.

Kilomba, Grada. Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism. Unrast Verlag, 2010.

Librandi, Marília. Writing by Ear: Clarice Lispector and the Aural Novel. U of Toronto P, 2018.

Lispector, Clarice. A descoberta do mundo. Rocco, Kobo edition, 2015.

___. A hora da estrela. Rocco, 1998.

___. A paixão segundo G.H. Editora da UFSC, 1988.

Malcolm, Janet. The Journalist and the Murderer. Vintage, 1990.

Mignolo, Walter. “Desobediência epistêmica: A opção descolonial e o significado de identidade em política,” translated by Ângela Lopes Norte. Cadernos de Letras da UFF, no. 34, 2018, pp. 287-324.

___. Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges, and Border Thinking. Princeton UP, 2012.

Peixoto, Marta. “‘Fatos são pedras duras’: Urban Poverty in Clarice Lispector.” Close to the Wild Heart: Essays on Clarice Lispector. Edited by Cláudia Pazos Alonso and Claire Williams, Legenda, 2012, pp. 106-125.

Rediker, Marcus. The Slave Ship: A Human History. Penguin, 2007.

Ribeiro, Djamila. O que é lugar de fala?. Editora Letramento, Kobo edition, 2017.

Roncador, Sônia. Domestic Servants in Literature and Testimony in Brazil, 1889-1999. Springer, 2014.

Smith, Zadie. “Through the Portal: The Photography of Deana Lawson.” The New Yorker, May 7, 2018, pp. 50-9.

Spillers, Hortense. “Mama’s Baby, Papa’s Maybe: An American Grammar Book.” Diacritics, vol. 17, no. 2, Summer 1987, pp. 65-81.

Tannenbaum, Frank. Slave and Citizen. Beacon Press, 1992.

Villares, Lúcia. “The Black Maid as Ghost: Haunting in A paixão segundo G.H.” Close to the Wild Heart: Essays on Clarice Lispector. Edited by Cláudia Pazos Alonso and Claire Williams, Legenda, 2012, pp. 126-141.

Weinstein, Barbara. The Color of Modernity: São Paulo and The Making of Race and Nation in Brazil. Duke UP, 2015.

Winters, Lisa Ze. The Mullata Concubine: Terror, Intimacy, Freedom, and Desire in the Black Transatlantic. U of Georgia P, 2016.