O legado afroindígena aos curadores da Pedreira: pajelança em processos criminais em Belém do Pará (1929-1933)
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Resumo
O artigo estuda denúncias judiciais de “exercício ilegal da medicina” em torno de práticas afrorreligiosas no bairro da Pedreira, em Belém, no norte do Brasil. A análise focaliza a repressão policial a artes de cura religiosa, chamadas genericamente de “pajelança” pelas autoridades de segurança pública, em autos criminais produzidos em 1929, 1930 e 1933. Como subsídio para o estudo, foram consultados escritos produzidos por intelectuais regionais na década de 1930 que construíram representações sobre a figura do pajé. A pesquisa adota uma atitude antropológica para o estudo de documentos criminais, na linha do historiador Carlo Ginzburg, de modo a compreender o enfrentamento dialógico entre acusadores, denunciados e testemunhas, diante das denúncias de curandeirismo e feitiçaria. O estudo da repressão às práticas de cura populares, de herança afro-ameríndia, percorre o conflito de sentidos entre sujeitos em condições desiguais, que produziram significados em torno da heterogeneidade semântica da pajelança.
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