O legado afroindígena aos curadores da Pedreira: pajelança em processos criminais em Belém do Pará (1929-1933)

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Antonio Maurício Dias da Costa
Juliana dos Santos Carvalho

Resumo

O artigo estuda denúncias judiciais de “exercício ilegal da medicina” em torno de práticas afrorreligiosas no bairro da Pedreira, em Belém, no norte do Brasil. A análise focaliza a repressão policial a artes de cura religiosa, chamadas genericamente de “pajelança” pelas autoridades de segurança pública, em autos criminais produzidos em 1929, 1930 e 1933. Como subsídio para o estudo, foram consultados escritos produzidos por intelectuais regionais na década de 1930 que construíram representações sobre a figura do pajé. A pesquisa adota uma atitude antropológica para o estudo de documentos criminais, na linha do historiador Carlo Ginzburg, de modo a compreender o enfrentamento dialógico entre acusadores, denunciados e testemunhas, diante das denúncias de curandeirismo e feitiçaria. O estudo da repressão às práticas de cura populares, de herança afro-ameríndia, percorre o conflito de sentidos entre sujeitos em condições desiguais, que produziram significados em torno da heterogeneidade semântica da pajelança.

Detalhes do artigo

Como Citar
Costa, A. M. D. da, & Carvalho, J. dos S. (2019). O legado afroindígena aos curadores da Pedreira: pajelança em processos criminais em Belém do Pará (1929-1933). Brasiliana: Journal for Brazilian Studies, 8(1-2), 229–249. https://doi.org/10.25160/bjbs.v8i1-2.114793
Seção
Dossier
Biografia do Autor

Juliana dos Santos Carvalho, Universidade Federal do Pará

Graduanda do curso de Bacharelado em História da Universidade Federal do Pará (UFPA) e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC-CNPq).

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