A dignidade dos vivos e dos mortos: a representação da morte nas modas-de-viola

Conteúdo do artigo principal

Jean Carlo Faustino

Resumo

Este artigo tem o propósito de realizar uma análise da morte nas narrativas das modas-de-viola da dupla Tião Carreiro e Pardinho, gravadas entre as décadas de 1960 e 1980, com o objetivo de compreender a relevância e o significado deste tema tanto do ponto de vista literário quanto sociológico.


As modas-de-viola foram um importante tipo de literatura oral brasileira, caracterizada por narrativas cantadas com o acompanhamento da viola caipira. De origem rural, este tipo de literatura que se disseminou no interior de São Paulo e Minas Gerais e estados vizinhos sempre desempenhou um importante papel de registrar e disseminar a sabedoria no cotidiano para este seguimento da população.


Com o chamado êxodo rural brasileiro, este tipo de literatura migrou para a cidade acompanhando, assim, o movimento que acontecia com seu público e intérpretes. Neste novo contexto, antes da sua morte simbólica causada pelas consequências da modernidade, este gênero musical encontrou seu apogeu de disseminação para um público que, mais do que nuca, precisava da ajuda de um instrumento de mediação com a nova realidade social.


E nesta nova realidade social, de nascimento do Brasil moderno e de luto do Brasil Caipira, as modas-de-viola passaram a integrar a morte em suas narrativas como elemento central sendo este, portanto, o escopo da presente análise.

Detalhes do artigo

Como Citar
Faustino, J. C. (2019). A dignidade dos vivos e dos mortos: a representação da morte nas modas-de-viola. Brasiliana: Journal for Brazilian Studies, 7(1), 174–189. https://doi.org/10.25160/bjbs.v7i1.114720
Seção
General Articles

Referências

Arruda, Maria Arminda do Nascimento. Metrópole e cultura: São Paulo no meio do século XX. Bauru (SP): EDUSC, 2001.

Benjamin, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sergio Paulo Rouanet. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. – (Obras Escolhidas; v.1).

Benjamin, Walter. Rua de mão única. Tradução Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 1987. – (Obras Escolhidas; v.2)

Brandão, Carlos Rodrigues. Os caipiras de São Paulo. São Paulo: Brasiliense, 1983. (Coleção tudo é história, 75).

Candido, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 4.ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades Ltda., 1977.

CUNHA, Euclydes. Os sertões: campanha de Canudos. 39. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora; Publifolha, 2000. (Grandes nomes do pensamento brasileiro).

Durhan, Eunice. A caminho da cidade: a vida rural e a migração para São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1973.

Faustino, Jean Carlo. A moda de viola enquanto literatura: a quintessência da sabedoria caipira. In: Souza, Marly Gondim Cavalcanti; Silva, Agnaldo Rodrigues da (org.). Diálogo entre literatura e outras artes. Cáceres, MT: Ed. UNEMAT, 2014. p. 121-136.

Faustino, Jean Carlo. A moda de viola enquanto literatura. In: SILVA, Agnaldo Rodrigues da (org.). Escritos culturais: literatura, arte e movimento. Cáceres: Ed. UNEMAT; Editora de Liz, 2011. p. 153-170.

Faustino, Jean Carlo. (2009). O Caipira, o boi e a viola: representação e superação simbólica do caipira diante do êxodo rural em São Paulo. 2009. Cadernos CERU, 20(2), 115-131. 2009. https://doi.org/10.1590/S1413-45192009000200008

Faustino, Jean Carlo. O Êxodo Cantado: a formação do caipira para a modernidade. 2014. 196p. Tese (Doutorado em Sociologia) – Departamento de Sociologia. Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), 2014.

Giddens, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.
Gonzales, Elbio N.; Bastos, Maria Ines. O trabalhador volante na agricultura brasileira. In: Pinsky, Jaime (org.) Capital e trabalho no campo. São Paulo: HUCITEC, 1979, p. 25-47. (Coleção estudos brasileiros, 7)

Martins, José de Souza. Música Sertaneja: a dissimulação na linguagem dos Humilhados. In:_______. Capitalismo e tradicionalismo. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1975. p. 103-161.

Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Livro 1, v.1, t.1. (Os economistas).



Nepomuceno, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. 1.ed. São Paulo: Editora 34, 2001.

Oliveira, Allan de Paula. O tronco da roseira: uma antropologia da viola caipira. 2004. 178p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

Ortiz, Renato. Cultura brasileira & identidade nacional. São Paulo: editora Brasiliense, 1985.

Pinto, Ivan Vilela. Cantando a própria história. 2011. 195p. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Departamento de Psicologia Social. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

Pinto, João Paulo do Amaral. A viola caipira de Tião Carreiro. 2008. 291p. Dissertação (Mestrado em Música) – Programa de Pós-graduação do Instituto de Artes. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.

Stolcke, Verena. Cafeicultura: homens, mulheres e capital (1850-1980). Tradução de Denise Bottmann e João R. Martins Filho. São Paulo: Brasiliense, 1986.

Vilela, Ivan. O caipira e a viola brasileira. In: Pais, José Machado; Brito, Joaquim Pais de; Carvalho, Mário Vieira de (orgs.). Sonoridades luso-afro-brasileiras. Cap. X. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2004, p.171-187.

Weber, Max. História geral da economia. Tradução de Calógeras A. Pajuaba. São Paulo: Mestre Jou, 1968. p. 308-322.

Williams, Raymond. Marxismo e literatura. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.

Willems, Emilio. Cunha: tradição e transição em uma cultura rural do Brasil. São Paulo: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1947.