Quanto vale uma Chanchada? Disputas conceituais e valorativas em torno das comédias cinematográficas brasileiras (1940-50)
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Resumo
Este artigo tem como objetivo identificar ‘pontos de contato’, interfaces entre os discursos acerca das comédias cinematográficas brasileiras que se tornaram conhecidas como chanchadas e os próprios filmes, em sua dimensão imanente, a partir da análise fílmica; em outras palavras, fazer encontrarem-se contexto e texto, discurso crítico e interpretação das obras. A primeira parte — metacrítica — revisita discursos acerca das chanchadas e observa uma mudança radical de polaridade na atribuição de valor a essa classe de filmes, que transita entre ser o mais desprezível e subserviente dos cinemas e ser um gênero subversivo, talvez o único que poderia ser considerado genuinamente brasileiro. O segundo momento — analítico —examina os filmes Nem Sansão nem Dalila e Matar ou correr, ambos dirigidos por Carlos Manga e lançados em 1954, com o intuito de procurar, nas obras, elementos que justifiquem a existência de duas visões tão opostas sobre um mesmo fenômeno. Percebendo a paródia como elemento fundamental da interface contexto-texto, tentamos também propor dois novos caminhos interpretativos para o estudo do gênero: um que trate os filmes a partir daquilo que têm de singular — o viés cômico — e outro que revela interessantes conexões entre as chanchadas e o cinema moderno brasileiro.
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