O feminino no discurso policial militar: da “ordem unida” ao “espírito de corpo”
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Resumo
A Análise de Discurso de vertente materialista (AD) teve como precursor Michel Pêcheux, se constituindo epistemologicamente como uma teoria não-subjetiva da subjetividade onde o sujeito não é dono do seu dizer, mas é afetado pela ideologia, história e inconsciente. O seu objeto, o discurso, é definido como o efeito de sentido entre os pontos A e B, sendo estes as representações dos sujeitos no discurso a partir da conjunção entre língua e história. Sabendo que o corpo, no campo da AD, é considerado como uma materialidade discursiva, considerarmos que ele é objeto de inscrição ideológica e de valores e atributos que contribuem para construção dos processos identitários dos sujeitos, constituindo-os em uma posição ou forma sócio-histórica. Neste sentido, buscamos refletir neste artigo, sobre as formas pelas quais o corpo feminino foi representado e construído discursivamente no discurso policial militar. Para tanto, o corpus escolhido foi uma matéria publicada no Jornal A Tarde, nos anos de 1990, que retratou o início do treinamento das primeiras mulheres a ingressarem nas fileiras da Polícia Militar da Bahia (PMBA). Buscamos, portanto, pensar os modos pelos quais o corpo feminino foi discursivizado com base nas normas, regras e estética policial militar destacando pela memória discursiva, o papel da historicidade e da concepção de assujeitamento do sujeito, atravessado pela língua e história e interpelado pela ideologia, utilizando-nos assim, das categorias analíticas da AD como aporte teórico metodológico.
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