"Quebrantados, na ociosidade e na intemperança": devassidão, bebedeira e indisciplina entre os holandeses durante sua conquista de Salvador (1624-1625)
Main Article Content
Abstract
Cerca de seis anos antes da conquista de Pernambuco em 1630, que daria início a uma ocupação de quase um quarto de século das capitanias setentrionais do Brasil, a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais lançou uma empresa com intuito de tomar a então capital da colônia portuguesa na América, Salvador. Com sucesso inicial, seguido de quase um ano de controle da cidade, a resposta das forças ibéricas que previamente dominavam aquelas paragens foi massiva e, ao fim e ao cabo, terminaram por reconquistá-la. Ainda que a frota luso-espanhola enviada com este fim tenha sido a maior a cruzar a linha do Equador até então, tendo expressivo peso na balança dos eventos que culminaram em sua reconquista da urbe, os testemunhos e grandes narrativas sobre o episódio pontuam grande influência de algumas posturas e atitudes das forças batavas, condenáveis aos olhos coetâneos, no percurso que terminou com sua derrota. Dentre elas, destacam-se a bebedeira constante, luxúria, indisciplina militar e descaso com as estruturas de defesa da urbe conquistada. O presente texto se debruçará sobre testemunhos e impressões coevos a fim de mapear as perspectivas sobre tais posturas dos militares holandeses e suas consequências nos eventos ocorridos na Baía de Todos os Santos entre 1624 e 1625.
Article Details
Articles published in Brasiliana are licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.
References
Bibliografia
Documentos
A PLAINE and true relation of the going forth of a Holland fleete the eleventh of november 1623, to the coast of Brasile. Roterdam: J. B., 1626.
ALDENBURGK, Johann Gregor. Relação da conquista e perda da cidade do Salvador pelos holandeses em 1624-1625. Coleção Brasiliensia Documenta, volume primeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1961.
BARLEUS, Caspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício Conde de Nassau, etc., ora governador de Wesel, tenente-general da cavalaria das Províncias Unidas sob o príncipe de Orange. Edições do Senado Federal, vol. 43. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005.
LAET, Johannes de. “Historia ou Annaes dos Feitos da Companhia Privilegiada das Índias Occidentaes desde o seu começo até ao fim do anno de 1636 por Joannes de Laet, Director da mesma Companhia”. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Volume XXX. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1912.
MOERBEECK, Jan Andries. “Motivos porque a Companhia das Índias Ocidentais deve tentar tirar ao rei da Espanha a terra do Brasil”. In: RODRIGUES, José Honório (org.). Documentos Holandeses: os holandeses no Brasil. Vol. I. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e Álcool, 1942, p. 25-43.
SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil (1500-1627). 5ª edição. São Paulo: Melhoramentos, 1965.
SCHMALKALDEN, Caspar. Brasil holandês: A viagem de Caspar Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil. Volume II. Organização de Cristina Ferrão e José Paulo Monteiro Soares. Rio de Janeiro: Index, 1998.
STERHENIUS, Enoch. “Brebe sucinta y berdadera narracion de la jornada al Brasil que algunos mercaderes ordenaron conlicençia y autoridad de los Ilustres señores estados y ordenes de olanda y zelanda en el ano de mil y seiscientos y veinte y tres”. In: VALENCIA Y GUZMAN, Juan de. Compendio Historial de la jornada del Brasil, 1625. Recife: Pool Editorial, 1984, p. 343-371.
TAMAYO DE VARGAS, Tomás. Restauracion de la ciudad del Salvador, y Baía de Todos-Sanctos, en la Provincia del Brasil, Por las Armas de Don Philippe IV, El Grande Rei Catholico de las Españas y Indias. Madrid: Alonso Martin, 1628.
VIEIRA, Pe. Antônio. “Ânua da Província do Brasil (30 de setembro de 1626)”. In: Cartas, volume 1. São Paulo: Globo, 2008, p. 33-82.
Estudos
BOXER, Charles. Os holandeses no Brasil (1624-1654). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.
_______. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola (1602-1686). Coleção Brasiliana, volume 353. São Paulo: Editora Nacional, Editora da Universidade de São Paulo, 1973.
BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo. Séculos XV-XVIII. Volume I. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
CAMENIETZKI, Carlos Ziller; PASTORE, Gianriccardo Grassia. “1625, o Fogo e a Tinta: a batalha de Salvador nos relatos de guerra”. Topoi. Rio de Janeiro: online, 2005, vol. 6, n. 11, p. 261-288.
CARNEIRO, Henrique. Bebida, abstinência e temperança na história antiga e moderna. 1ª edição. São Paulo: Senac, 2010.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. 7ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
GALINDO, Marcos (org.). Episódios Baianos: Documentos para história do período holandês na Bahia. Recife: NÉCTAR, 2010.
HERKENHOFF, Paulo (org.). O Brasil e os holandeses (1630-1654). Rio de Janeiro: GMT Editores; Sextante, 1999.
MIRANDA, Bruno R. F. Gente de Guerra: origem, cotidiano e resistência dos soldados do exército da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil (1630-1654). 1ª edição. Recife: Editora UFPE, 2014.
SCHWARTZ, Stuart B. “The Voyage of the Vassals: royal power, noble obligations, and merchant capital before the portuguese Restoration of Independence”. The American Historical Review. Vol. 96, n. 03, jun. 1991, p. 735-762.
STRAATEN, Harald S. van der. Brasil: um destino. Brasília: Linha Gráfica Editora, 1998.
VEYNE, Paul. Como se escreve a história e Foucault revoluciona a história. 4ª edição. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2014.
WÄTJEN, Hermann. O domínio colonial holandês no Brasil: um capítulo na história colonial do século XVII. Recife: CEPE, 2004.