Revue Romane, Bind 21 (1986) 2

Alfred Suter: Das portugiesische Pretérito Perfetto Composto. Romanica Helvética 97. Bern,Francke, 1984. 235 p.

Birger Lohse

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O sistema verbal portugués caracteriza-se pelo seu conservadorismo. Mantém vivas, e distintas,a maior parte das formas da voz activa do latim. Salienta-se, no contexto romanico, o preterito perfeito simples (PPS, v. g. fiz, de feci) que, na actual fase da lingua portuguesa, permanece em pleno vigor, tanto como 'perfectum historicum' (em oposiçâo aspectual ao pretérito imperfeito) como 'perfectum logicum', sem mostrar sinais de um desenvolvimento

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semàntico para um tempo exclusivamente preterital, semelhante ao que aconteceu no francés e no italiano, p. ex. A inovaçâo romànica de habere (no presente) seguido por um participio passado, que, em outras línguas, tem substituido, em grau maior ou menor, o perfeito simples,sofreu um destino bem particular no portugués. Entre as formas verbais compostas com este auxiliar (no. port, sucessivamente suplantado por ter, de tenere), o pretérito perfeito composto (PPC) distingue-se por urna especificidade semántica muito nítida, o aspecto imperfectivo,que restringe bastante o uso desta forma, em contraste com o PPS, cujo campo de aplicaçâo - e frequência - é incomparavelmente maior.

A problemática dos dois perfeitos, PPC e PPS, e, em especial, da singularidade do PPC dentro do sistema verbal portugués, e também quando considerado contrastivamente em relaçâo a formas análogas ñas demais línguas románicas, é problemática que continua a merecer atençâo científica, como se prova pelo aparecimento nao de um, mas de dois trabalhos independentes, publicados no mesmo ano sobre este tema: o livro objecto desta recensâo e um artigo, muito valioso, na revista Letras Solfas (n° 2 de Maio de 1984) de Henriqueta Costa Campos.

Suter propôe-se determinar a funçâo fundamental (que nâo é o mesmo que significado fundamental) do PPC, 'ao nivel da lingua', através da análise de um corpo de exemplos (aproximadamente 2500) tirados de textos origináis e traduzidos. Considera a forma em questâo sob varios ángulos, investigando tanto a dependencia contextual (a relaçâo verboadverbio) e a ocorrencía em certos tipos oracionais, como a interacçâo com a natureza semántica (aktionsarf) do verbo, para o estudo da qual se limita a discutir o comportamento de, apenas, oito verbos. Aborda de maneira interessante o desenvolvimento histórico, constatando, ele também, que a especificidade semántica actualmente típica do PPC se tornou dominante só a partir do século passado. Trata o caso remanescente de tenho dito ÇdixV), bem como o caso raro do uso modal, em vez de um mais-que-perfeito do conjuntivo para indicar condiçâo irrealizável, em oraçôes subordinadas com se. Termina o traballio com urna comparaçâo entre o imperfeito do indicativo e o PPC — e com urnas breves observaçôes fináis, onde o leitor talvez (mas em vâo) procure urna conclusâo global dos resultados obtidos.

Aquilo que pode ser considerado como a essência do traballio, ou sua principal tese, e que Suter apresenta repetidamente ao longo do texto, a propòsito das varias análises, é o seguinte: Tanto o PPS como o PPC têm capacidade para exprimir que a acçâo verbal chega até o momento em que se fala (designemos este ponto por S); o PPC diferencia-se do PPS nâo só porque a acçâo permanece inacabada em S, como tem ainda a virtualidade de continuar para além de S, no futuro. Constituida este o traço fundamental do PPC, traço que opôe esta forma nâo apenas á forma rivalizante dentro da lingua (o PPS), mas também aos pretéritos perfeitos compostos de outras línguas. A oposiçâo entre o PPC e o imperfeito — ambos, aparentemente, do mesmo aspecto - consistiria em que o imperfeito marca urna descontinuidade entre S e a acçâo descrita pelo verbo, o que nâo é, antes pelo contràrio, o caso do PPC.

Quer se esteja ou nâo de acordo com a descriçâo semantica oferecida por Suter a respeito do PPC, e quer se deseje ou nâo que tivesse prestado mais atençâo aos desenvolvimentos teóricos da linguistica no dominio da semàntica temporal e aspectual, isso nâo implica que se nâo possam levantar objecçôes sobretudo de ordem metodològica a esta contribuiçâo. alias rica em observaçôes de interesse e em análises que muitas vezes parecem acertadas. Segundo o método adoptado, análise de um corpo de exemplos, reduz-se o traballio, na pràtica, a

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interpretaçôes intuitivas de frases seleccionadas pelo autor, mas cuja representatividade se nao comprova. Apresenta-se 'apenas' o lado positivo de problema, em forma de um grande numero de dados (os exemplos). Faltam, porém, os factos lingüísticos que poderiam servir para testar os postulados, para falsificar as hipóteses e para, enfim, melhor avallar os resultadosdo traballio. Esta tarefa entrega-se ñas máos do leitor.

Brasilia